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Saturday, January 01, 2005

O ultimo dia do ano não tem tempo:
o relógio pára na espuma das ondas
que repetidamente desaparece na areia.
Os meus passos arrastam memórias
em sulcos entranhados de decisões
e a tarde acompanha o sol espelhado no mar.

Pela manhã, calcei as minhas botas
mais confortáveis.e enterrei os pés no quintal.
Ao lado da laranjeira ergui-me
com braços de ramos verdes a sentir a brisa.
O copo de limonada estava junto a mim
sobre um banco de madeira pintado de azul claro.
Do baú tinha já retirado o papagaio multicolor
que agora esvoaçava agarrado à perna do banco.
Lembrava-me as mil cores da minha infancia:
canetas de feltro em riscos irreversíveis.livres.
O sabão cor de rosa guardado para dias especiais
estava já no lavatório. junto a uma toalha lavada, verde alface.

Tinha os pés quentes.Gostava de me sentir
preso à terra.entregue aos deuses das árvores.
Fechava os olhos de tempos a tempos
e sentia seiva surgir na folhas verdes.sentia
folhas planarem sobre mim
e cores, laranjas, pesarem-me no coração.
Ouvia a minha mãe dizer que eram boas laranjas.

O rádio tocava em "repeat"
a musica que me acordara pela manha
e exaltava uma noite para comemorar.
Tinha deixado sardinhas frescas à porta do quintal:
os gatos sorriam bigodes deliciados.
depois deste dia nunca mais os veria: talvez no ano seguinte.
Gostava deles assim.

A tarde, na praia, ofereceu-me a noite,
que se aproximou com olhos tintos de vinho
na mesa com toalha branca e
uvas passas.
Estava tudo preparado.
a lenha para a fogueira escondia-se num cesto velho que encontrara na garagem.
Não comi as uvas passas. mas acendi a fogueira no quintal
e adormeci em memórias trémulas de chamas
que me aqueceram a noite.

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