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Saturday, January 07, 2006

Subindo uma rua do Chiado, daquelas com calçada gasta por tanta gente diferente, pisada por pés de tantos mundos, vencida por passos tão próximos de cada um de nós, dei comigo parado junto a uma montra de um alfaiate. Os seus melhores amigos serão certamente seus clientes, pensei.
No reflexo do vidro senti um frio fogo de uma montra distante. como se fosse preciso subir milhares de degraus para chegar junto desse alfaiate. Como se ao longo desses degraus precisasse de partilhar a minha vida: a única coisa que eu queria era sentar-me um pouco dentro da loja. saber se estava frio, se havia um rádio em alto volume, se o senhor falava muito ou, pelo contrário, bebia chá preto num silêncio pasmo de ausência.
Coloquei a mão no vidro. queria deixar uma marca naquela montra. esperando um dia compreender aquela ausência, minha. O calor do meu corpo ficou marcado na transparência do limite entre a montra do alfaiate e a rua de toda a gente.
Segui pela rua. Aos poucos o meu passo perdeu ritmo. Conseguia ver dentro da minha cabeça fluxos intensos de pensamentos furiosos, o sangue sentia-o quente. Dei por mim a caminhar sempre no mesmo sítio. Passo após passo.
Por fim reparei que à minha volta a rua estava estática: pessoas, cães, pássaros, lixo que voava, agora estava completamente imóvel. Há pouco andando sempre no mesmo sítio, agora caminhando por entre corpos parados. Estátuas vivas. sentimentos parecendo montras de uma vulgar rua de toda a gente.
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